sexta-feira, 19 de junho de 2009

AVALIAÇÃO COMPOSIÇÃO CORPORAL

A partir do século XIX iniciou o interesse pelas medidas dos componentes do corpo humano, este interesse se intensificou no final do século XX pela associação existente no excesso de gordura corporal e a prevalência no desenvolvimento de diversas doenças como: cardiopatias, hipertensão, diabetes tipo II, osteoartrite, pulmonar obstrutiva e alguns tipos de câncer (Heyward & Stolarczyl, 2000).
Até o início do século XX a análise da composição corporal ainda era feita através da dissecação de cadáveres (in vitro), considerada até hoje a única maneira direta para medir os principais componentes do corpo humano. Nos últimos anos vários métodos foram desenvolvidos e aperfeiçoados com o objetivo de medir e estratificar os componentes da massa corporal. Estes métodos são divididos em diretos, indiretos e duplamente indiretos.
Neste artigo vamos dissertar a respeito de dois métodos duplamente indiretos (DOBRAS CUTÂNEAS E IMPEDÂNCIA BIOELÉTRICA INCLUINDO A TANITA e o OMRON) utilizados para a avaliação da composição corporal.
As técnicas duplamente indiretas possuem algumas vantagens em relação aos outros métodos, são menos rigorosas, têm uma melhor aplicação prática e um menor custo financeiro, podendo ser aplicadas em grande escala em ambiente de campo e clínico.
Segundo Garrow (1992), o método ideal para medir a composição corporal “deve ser relativamente barato, e que forneça pouco incômodo ao avaliado; ser operado por técnicos capazes e render resultados altamente acurados e reprodutíveis”. Para isso, os profissionais que trabalham com a AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO CORPORAL devem ter um conhecimento profundo da metodologia da técnica escolhida e dos critérios de autenticidade científica (validade, confiança e objetividade). Um teste é considerado válido quando ele mede tão precisamente o que se propõe a medir. A confiança ou fidedignidade e a objetividade estão relacionadas com a reprodutibilidade dos resultados tanto inter(mesmo avaliador) quanto intra-avaliador(entre avaliadores diferentes) (Fernandes,1999).
Neste sentido estatisticamente é utilizado o coeficiente de correlação (r) quanto mais próximo de 1,00 for o valor encontrado, maior a fidedignidade dos métodos que vamos abordar em relação a PESAGEM HIDROSTÁTICA, método utilizado para validar todos os demais métodos no que tange a AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO CORPORAL.

O método de DOBRAS CUTÂNEAS (DOC)

Tem sido muito utilizado para estimar o %GC (Percentual de Gordura Corporal) em situações de campo e clínica, devido a sua fácil utilização e custo relativamente baixo quando comparado às outras técnicas. É importante ressaltarmos que este método pode apresentar diferenças de até 3% no %GC estimado ou até 12 mm para um único ponto quando não respeitadas às padronizações/protocolos de medidas ou pela falta de experiência do avaliador.
Porém quando os avaliadores são experientes e respeitam as padronizações o erro cai para menos de 1% para valores do %GC (Pollock & Jackson, 1984 e Pollock et al., 1986 cit. Pollock & Wilmore, 1993).
Segundo ACSM’S (2000) a composição corporal pelo método de DOC quando correlacionado com a PESAGEM HIDROSTÁTICA (PH) procedimento este conhecido como MÉTODO OURO e utilizado cientificamente para validar outros métodos existentes, a utilização das dobras cutâneas obteve um r= 0,70 a 0,90.
As primeiras equações para análise da composição corporal através de medidas antropométricas foram divulgadas por Brozek e Keys em 1951 cit. Pollock & Wilmore (1993). Hoje, existem inúmeras equações específicas e generalizadas para predizer a gordura corporal pelo método de DOC. Dentre elas destacam se as equações generalizadas de Jackson & Pollock (1978 e 1980) as quais foram validadas para homens com idade entre 18 e 61 anos e para mulheres entre 18 e 55 anos. As equações de Siri (1956) e Brozek (1963) cit. Pollock & Wilmore (1993) são geralmente utilizadas para converter a DOC em % GC. No Brasil alguns estudiosos como Guedes (1985) e Petroski (1995), desenvolveram e validaram equações para estimativa da composição corporal através do método de DOC.

Análise de Impedância Bioelétrica (BIA)

Este método baseia-se na condução de uma corrente elétrica de baixa intensidade (500 a 800 μA e 50 kHz) através do corpo. A impedância (Z) ou resistência ao fluxo da corrente elétrica é medida pelo analisador de BIA. Como Z varia de acordo com o tecido que está sendo medido, por exemplo, a Massa Corporal Magra (MCM) é um bom condutor de energia; devido a sua alta concentração de água e eletrólitos e a Massa Gorda (MG) é um mal condutor de energia, um indivíduo com uma grande quantidade de MCM terá uma menor resistência à corrente elétrica, ou seja, um menor valor de Z (Wagner & Heyward, 1999); então podemos dizer que Z é diretamente proporcional ao percentual de gordura corporal. O analisador de BIA é um aparelho tetrapolar, o qual utiliza quatro eletrodos (dois condutores colocados na mão e no pé e dois receptores colocados no punho e no tornozelo).
A validade e a precisão do método de BIA são influenciadas por vários fatores como tipo de instrumento, colocação do eletrodo, nível de hidratação, alimentação e prática de exercícios anteriores ao teste e ciclo menstrual, temperatura ambiente e equação de predição (Heyward & Stolarczyl, 2000). Várias equações de BIA foram desenvolvidas para crianças, idosos, índios americanos, hispânicos, brancos, obesos e atletas e conseqüentemente cada uma obteve a sua validação com r variando de 0,60 a 0,98 (Kushner, 1992).
Para não comprometer o resultado da análise da composição corporal por BIA, cuidados prévios devem ser levados em consideração como: não comer ou beber antes de 4 h do teste; não fazer exercícios 12h antes do teste; urinar 30min. antes do teste; não consumir álcool 24h antes do teste; não fazer uso de medicamentos diuréticos nos últimos 7 dias; ter certeza de que não está retendo líquido devido ao ciclo menstrual (Heyward & Stolarczyl, 2000).
A Tanita e o Omron são equipamentos recentemente comercializados que utilizam também o fluxo da corrente elétrica para estimar o % de gordura corporal. A Tanita utiliza o contato dos pés em uma plataforma medidora, a qual envia uma corrente elétrica através das pernas e do tronco. O indivíduo fica em posição ereta, com quatro eletrodos dispostos no calcanhar e na sola dos pés (Jebb et al., 2000). Existem mais de dezesseis modelos diferentes de Tanita, muitos ainda em processo de validação. Alguns estudiosos têm testado a validade de Tanita. Quando correlacionada com PH obteve r= 0,94 e 0,78 (Hanier et al., 1995 e Utter et al., 1999). O Omron utiliza o contato das mãos para emitir a corrente elétrica através dos braços e do tronco. O avaliado em pé coloca suas mãos no local do eletrodo e eleva os braços à sua frente formando um ângulo de 90o entre os braços e o tronco. Arratibel (1999) demonstrou em seu estudo que este instrumento pode ser tão válido quanto às medidas DOC. Ambos têm a vantagem do baixo custo, facilidade de aplicação e portabilidade.
Mas, apesar de serem utilizados em ambientes clínicos e esportivos, ainda estão em processo de validação e devem respeitar os cuidados já citados।

Infelizmente temos observado que alguns profissionais da área Médica e Nutrição realizam a Avaliação da Composição Corporal através da BIA sem os cuidados citados anteriormente, quando isto ocorre os valores encontrados são SUBSTIMADOS ou SUPERESTIMADOS, ou seja, ficam abaixo ou acima respectivamente dos valores verdadeiros, e se levarmos em conta que muitas vezes estes profissionais utilizam os dados para estimar os valores da Taxa Metabólica Basal e do Gasto Calórico Total, para prescreverem DIETAS hiper ou hipocalóricas dependendo do objetivo de seus clientes, o erro final será ainda maior colocando em risco os resultados tão almejados pelos clientes.